Palestra sobre autismo reuniu centenas de pessoas no Cenforpe

Família Brito Sales fez apresentação sobre neurociência e Transtorno do Espectro Autista, em evento aberto à comunidade

Com mais de 300 pessoas inscritas, a palestra “Neurociência e TEA: o que é preciso saber” reuniu famílias, profissionais de ensino, autoridades e comunidade pinhaense no auditório do Cenforpe, na última sexta-feira (19). Organizado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPcD), o evento trouxe a família Brito Sales para uma apresentação aberta sobre os desafios e perspectivas acerca do Transtorno do Espectro Autista.

Estiveram presentes na ação a prefeita de Pinhais, Rosa Maria, a secretária de Educação, Andrea Franceschini, o vereador Arnaldo do Vizinho Solidário, a presidente do CMDPcD, Andreza Figueira de Andrade, demais representantes do conselho e servidores municipais. “Nós queremos que nossos meninos e meninas, cidadãos e cidadãs, sejam felizes, sejam respeitados. E palestras como esta, num mês de muitas ações, considero extremamente importante, porque à medida que eu conheço, que me informo, eu respeito mais, eu entro na luta pelos direitos dessas pessoas”, declarou a prefeita.

Abrindo as atividades, Anita Brito, pós-doutoranda em neurobiologia do TEA pela Universidade de São Paulo (USP), abordou os fatores genéticos e ambientais sobre a condição que afeta 1 a cada 36 crianças, segundo pesquisa do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Relativamente recentes, os estudos na área contribuem para uma maior inclusão dos autistas na sociedade. “Antigamente, as escolas expulsavam essas crianças por serem incapazes de aprender. Na verdade, nós não éramos capazes de ensinar”, disse Brito.

Em seguida, Alexsander Sales, pai do autista Nicolas, relatou as dificuldades que a família passou nos primeiros anos do filho, ainda sem um diagnóstico. “A ciência é o caminho que a gente escolheu”, recomendou. Depois de expor toda a trajetória de muita pesquisa e dedicação, Sales indicou aos espectadores que “o Nicolas não é exemplo para vocês, mas o filho de vocês deve ser. A evolução é diária, ser melhor do que foi ontem”, completou.

A noite encerrou com a apresentação do Nicolas Brito Sales. Autista, aos 25 anos de idade é fotógrafo, palestrante e escritor. Divertido e inspirador, o jovem contou como “driblou” as dificuldades na infância, com adaptações nas provas e atividades escolares. “Em uma prova de biologia, a professora utilizou personagens do jogo Mario Bros”, mostrou. Além disso, Nicolas também exibiu uma tabela periódica de química adaptada com personagens de anime (desenho japonês) e outras versões do universo da cultura nerd, comumente uma área de interesse dos autistas.

Nicolas também comentou sobre o gosto pela fotografia, com a qual já foi premiado. Além disso, já escreveu, com a sua mãe, o livro “TEA e inclusão escolar – um sonho mais que possível”. Em 2017, lançou seu próprio livro, “Tudo o que eu posso ser”, onde conta suas experiências, e em 2019, escreveu seu primeiro livro infantil, “Ivana e a cura para o preconceito”.

Cada vez mais sabedor das suas limitações e potencialidades, Nicolas explicou um pouco da sua rotina e como tem evoluído a cada dia: “Meus pais me incentivam todos os dias e me ensinam o que é certo e o que é errado. Não gosto muito de me relacionar com a sociedade, principalmente quando tem bastante gente, apesar de saber que isso é necessário. Já consigo sair de casa com a minha família sem nenhum problema e já estou conseguindo sair sozinho hoje em dia”. O palestrante encerrou a apresentação com a frase que, segundo ele mesmo, mais gosta: “Nem todo ser humano é autista, mas todo autista é ser humano.”

Na plateia, Elisângela dos Santos, mãe dos autistas Gabriel e Rafael, aproveitou o conteúdo da palestra. “Quando o Gabriel foi diagnosticado, meu primeiro filho, que hoje tem 21 anos, eu vivi um luto, mas eu tive que passar por aquilo, levantei a cabeça e segui em frente. Daí veio o diagnóstico do segundo, ‘o raio caiu duas vezes no mesmo lugar’, e vamos embora. Meus filhos nunca foram e nunca serão pesos para mim. É muito errado ficar romantizando o autismo, mas adianta eu ficar reclamando. Hoje em dia não tem mais tanta falta de informação, o que falta nas pessoas é respeito, mais empatia”, afirma.

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